"A bola dá volta"

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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Entrevista ao site da FIFA




De Preparador a embaixador...

Quando resolveu partir, em fevereiro de 2011, Michel Huff não parecia estar tomando uma decisão assim dramática. Preparou uma mala “para dois ou três meses” e embarcou do Brasil para Kharkiv, Ucrânia, para ser o novo preparador físico do Metalist. “Fui para ficar, mas eu não tinha certeza”, ele admite quase com ar de culpa. ”Porque, convenhamos, é difícil ter muitas certezas quando é para sua vida mudar tanto de um dia para o outro.”
E isso tudo porque não foi apenas de país e de clima que o gaúcho mudou. Michel foi embora pensando em provar por alguns meses como preparador físico – e não de uma comissão técnica liderada por brasileiros, mas como único intruso entre os locais. Hoje, está em Kharkiv há quase quatro anos, acumulando as funções de assistente técnico, guia turístico, tradutor, adido cultural, churrasqueiro e mais uma meia dúzia que revela a cada tanto da conversa com o FIFA.com. 
Foi algo surpreendente para todos: tanto para ele, Michel, quanto para o clube. Era difícil supor que justo o preparador físico acabaria se tornando uma das peças-chave de um projeto calculado e ambicioso do clube do nordeste da Ucrânia. Espelhando-se no sucesso recente do Shakhtar Donetsk, o Metalist escolheu seu caminho para buscar dar um salto no futebol do país: ia investir em jogadores sul-americanos. E, então, cada vez foi fazendo mais sentido ter aquele sujeito comandando treinamentos - alternando-se, a princípio, entre português, portunhol e inglês. Mas só a princípio.

“Aqui em Kharkiv, além do ucraniano, fala-se muito o russo. Eu, aos poucos, fui estudando por conta própria e hoje passo os treinos também em russo. Claro que isso ajudou a que o clube e o treinador (Myron Markevych)tivessem mais confiança em mim”, relembra ele, hoje muito mais tranquilo depois de o projeto ter engrenado e, em 2012/13, o vice-campeão Metalist ter encerrado uma série de 16 anos em que as duas primeiras posições da liga do país sempre ficaram com Shakhtar e Dínamo de Kiev. “O que vale, no fim, é o resultado, claro. Mas o pessoal sabe que não é fácil se adaptar; claro que sabe. Ainda mais eu, que vim sozinho, já que a minha esposa está fazendo seu doutorado no Brasil. Não é nada fácil. No fim, o trabalho de se tornar um anfitrião para os sul-americanos é bom para eles, mas também para mim.”
Um irmão na comissãoOs brasileiros, no início, eram três: Cleiton Xavier, Taison e Edmar - um meia-armador nascido em Mogi das Cruzes e naturalizado ucraniano, vivendo no país desde 2002. Taison se transferiu para o Shakhtar nesta temporada, mas o elenco de hoje do líder do Campeonato Ucraniano tem ainda o zagueiro Rodrigo Moledo, o lateral-esquerdo Márcio Azevedo, o meia Diego Souza e o atacante Marlos. Isso para não falar nos cinco argentinos: Cristian Villagra, José Ernesto Sosa, Alejandro Gómez, Juan Manuel Torres e Sebastián Blanco.
“Como estou aqui há mais tempo e falo o russo, eu levo eles para conhecer a cidade, para fazer compras, mostro o que tem de bonito, ensino onde encontrar a carne boa e, desde a última vez em que o churrasco liderado pelos argentinos não ficou muito bom, fui nomeado churrasqueiro oficial também”, brinca Huff, de 37 anos, bem no momento em que a seu lado se ouve a voz de Rodrigo Moledo concordando animado; os dois a caminho do treino. “O pessoal não está acostumado: no geral, quando acaba o treino, cada um vai para o seu canto e pronto. Mas, aqui, isso tudo faz parte da minha função. Coube a mim saber me adaptar e estabelecer os limites: a hora do treino é a hora do treino. Fora do campo, eu sou como um irmão mais velho.”
Não bastasse essa adaptação toda, ainda tem o frio. Não só como elemento para dificultar a vida, mas também o trabalho. Porque uma coisa é preparar o físico dos jogadores a 17 graus positivos; outra, bem diferente, quando esses graus são negativos. À uma hora da tarde. “Precisei estudar, claro. O aquecimento deve ser mais duradouro, a preocupação com alongamento é muito maior. E eu prezo muito o treino de força, que exige intervalos de descanso. No frio, isso é complicado. Até nisso precisei me adaptar”, conta Huff. “Não é à toa que os clubes daqui procuram trazer os jogadores sul-americanos sempre no verão. E que, claro, no auge do inverno, levam os elencos para se preparar no sul da Europa ou no Oriente Médio.”
Foi justamente numa dessas ocasiões que Michel Huff ganhou mais um inesperado admirador. O Metalist coincidiu com o Zenit, da Rússia, num período de treinamentos em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos e, um dia, à beira do campo de treinos, um curioso se apoiou na grade, maravilhado com aquela mescla de russo, inglês, portunhol e autêntico português que entremeava os exercícios. Era o zagueiro Bruno Alves, da seleção de Portugal. Ao final do treino, se aproximou de Michel e lhe disse: “Que incrível conseguir triunfar diante de tanta dificuldade. Parabéns. Bem que podíamos ter um de você para nos ajudar na Rússia.” Michel, agradecido, sorriu. E isso que Bruno Alves achava que estava falando só com um preparador físico. 
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