"A bola dá volta"

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

ENTREVISTA (4ª parte) 26.05.11

Última parte da entrevista dada pelo Michel Huff ao Bruno Camarão do site http://www.universidadedofutebol.com.br/

Universidade do Futebol – Qual a importância de um treinamento que procure integrar as diversas necessidades do jogador, tanto na parte técnica, tática, como no condicionamento físico e no preparo mental? Ele é bem compreendido no Brasil?

Michel Huff – Acredito muito no todo, desenvolvendo as partes inseridas no todo, e o todo fazendo parte das partes. Pode parecer um preceito meio confuso, mas gosto de uma frase que está no livro do José Mourinho (“Descoberta Guiada”), em que está escrito que não podemos ver a árvore separadamente (caule, raiz, folhas e frutos), mas sim como uma árvore. Essa é a visão que tenho do futebol.
Acredito em treinamento coletivo do futebol quando se estão inseridos todos os aspectos físicos, técnicos, táticos e comportamentais, mas essa visão de treinamento no Brasil é pouco usual e desconhecida até de pessoas que dizem que conhecem.
Creio que a metodologia inovadora irá crescer no Brasil na medida em que conseguirmos mudar a ideia da ponta da pirâmide do futebol, que é a mandatária no esporte – diretores, gestores, presidentes de clubes, presidentes de federações, etc.
São esses que podem fazer o futebol ser visto de uma forma mais moderna e um pouco menos sustentada apenas por resultados. Dessa maneira, os profissionais do futebol da parte da base da pirâmide terão sucesso com a nova metodologia. Espero ver isso ainda.

Universidade do Futebol – Pode-se dizer que o método tecnicista ainda está fortemente arraigado no inconsciente coletivo dos profissionais de futebol? Há uma grande dificuldade em compreender como é possível ensinar e aperfeiçoar a técnica dentro do contexto de jogo, ou como se teoriza, ensinar a técnica por meio da ação tática?

Michel Huff – Interessante falarmos disso, mas acredito que para acontecer a mudança coletiva de pensamento metodológico, não vamos poder sair do que falei na resposta anterior.
Já tive em clubes nos quais os diretores não sabiam diferenciar um treinador que desenvolvia uma metodologia convencional da inovadora, e uma boa parte dos gestores e executivos do futebol não sabem nem o significado de metodologia.
Em relação ao segundo questionamento, vejo que o problema não é em relação ao ensinar e aperfeiçoar a técnica dentro do contexto tático, e sim no que diz respeito à falta de modelo de jogo que encontramos nos treinadores que dizem trabalhar nesse tipo de metodologia sem conhecimento dos princípios e sub princípios que norteiam o modelo.
Estamos em uma época que trabalhar com a metodologia inovadora virou um modismo profundo e todos querem entrar na moda. Mesmo, às vezes, ainda se portando à maneira antiga.

Universidade do Futebol – Como ocorre a integração com a equipe médica no trabalho de recuperação de um atleta que volta de contusão? De que maneira acontece a interação entre o treino do jogador e sua recuperação?

Michel Huff – O processo aqui é um pouco diferente do nosso país. Utiliza-se na Ucrânia muito da medicação e pouca prevenção e reabilitação fisioterápica comparado com o processo brasileiro – somos os melhores do mundo nesses quesitos, sem sombra de dúvida.
A reabilitação é feita com qualidade, mas com menos variabilidade da que encontramos no Brasil. Tenho utilizado muita propriocepção com atletas que retornam de lesões traumáticas, principalmente de tornozelo e joelho, e vejo que podemos evoluir na utilização do treinamento de força para melhor rendimento e prevenção de lesão.
Mas o processo de reabilitação, desde o diagnostico da lesão, passando pelo tratamento, reabilitação e inserção do atleta no grupo, acontece de maneira sistemática.
Podemos encontrar às vezes uma aceleração do sistema quando o jogador já está no campo treinando individualmente e o processo é antecipado, com riscos, mas sem maiores problemas.

Universidade do Futebol – Qual a fronteira entre a participação do preparador físico no amparo psicológico aos atletas, e o trabalho propriamente dito de um profissional específico da área? Você aborda conceitos de auto-ajuda e neurolinguística no seu trabalho diário?

Michel Huff – Meu conceito é que nessa área vivemos num contexto muito amplo. Conhecer o que pensa cada jogador está relacionado ao que o líder (treinador) dos jogadores irá fazê-los pensar.
Acredito que tudo depende da maneira e da forma de liderar o grupo. Temos muitas formas de liderança que podemos citar, porém fica claro para mim que a maneira que mais se aproxima do que creio é servir para ser servido.
Esse é um processo mais demorado de liderança, mas com uma atmosfera verdadeira e baseada em sentimentos múltiplos, pensando em uma forma de conseguir êxito coletivo.
Vejo que o preparador físico tem uma influência conceituada sobre os jogadores, uma relação de irmão mais velho com irmão mais novo. O preparador físico escuta muitas reclamações e confissões que, dependendo de como for captada e entendida, pode trazer bons frutos para a equipe. Ao mesmo tempo em que pode atrapalhar muito, dependendo do perfil do profissional.
Traçar esse perfil do jogador e classificá-lo em grupos de comportamentos compete a um especialista da área da psicologia esportiva. Vejo como um acessório importante dentro do processo.
Muitos clubes ainda tentam se modernizar em relação à constituição de uma comissão técnica, mas acabam enchendo o vestiário com profissionais sem conhecimento do futebol, o que pode gerar uma lentidão na inter-relação das áreas envolvidas no trabalho coletivo.

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