Primeira parte da entrevista dada pelo Michel Huff ao Bruno Camarão do site www.universidadedofutebol.com.br
Kharkiv é considerada por muitos habitantes locais como a cidade mais desportiva da Ucrânia. Ela já produziu vários grandes atletas, como Aleksey Barkalov (pólo aquático), Rustam Sharipov (ginástica artística), Lyudmila Dzigalova (atletismo), Yuri Poyarkov (voleibol), além do “Peixe de Ouro” Yana Klochkova, nadadora que ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney e de Atenas. E conta também com um representante no futebol.
O FC Metalist é o clube mais popular da segunda maior cidade ucraniana. Vencedor da Taça da URSS, em 1988, a agremiação realizou campanhas bem sucedidas em competições posteriores, como ter chegado às oitavas de final da Copa da Uefa de 2009, naquela que foi a sua melhor campanha em competições européias. À ocasião, foi eliminado pelo tradicional Dínamo de Kiev.
Tal campanha certamente esteve condicionada ao processo de desenvolvimento interno. Após uma crise financeira, o Metalist foi adquirido pelo UkrSibbank e recebeu o patrocínio da DCH (empresa de Oleksandr Iaroslavskyi). Os investimentos constantes em estrutura e profissionais qualificados representaram êxito técnico. Inserido nessa realidade desde a temporada passada está Michel Huff.
“Aqui no FC Metalist, encontrei uma estrutura física de dar inveja a muitos clubes brasileiros. O centro de treinamento do clube é de alto nível, novo e foi feito há pouco tempo com tudo que se possa imaginar: campos de grama natural com iluminação – quatro ao todo –, um campo de grama sintética, quadra de areia, academia, ambiente de recuperação (piscina, sala de massagem, sauna seca, sauna a vapor, sauna fria), refeitório, tanto para o profissional, quanto para as divisões menores, hotel para a base e para o grupo principal, possuindo sala de internet, calefação geral, TV, sala de jogos, sala de palestra, departamentos médico e fisiológico, vestiários e segurança 24h por dia”, revelou o preparador físico brasileiro, radicado no país do Leste Europeu após convite de um amigo – o ex-jogador Jader Brazeiro.
Huff é professor de Educação Física, formado no IPA-IMEC/RS, com pós-graduação em Técnico Desportista em Futebol e Futsal, pela PUC/RS. Acumulou passagem pelas categorias de base de Grêmio e Internacional, além de departamentos principais de diversas representações do Rio Grande do Sul.
Na Ucrânia, ele percebeu de prontidão as diferenças relacionadas ao treinamento esportivo. Huff revela que não há atividades físicas propriamente ditas – todo o processo é criado a partir da estrutura contextual do sistema de jogo, mesmo que não haja um modelo de jogo da equipe determinado.
“Trabalham-se com poucos feedbacks de princípios do modelo de jogo, mas muita exigência de posicionamento tático. Em relação às avaliações físicas, valoriza-se muito pouco esse aspecto: não existe a preocupação com dados físicos, e os antropométricos são entendidos de uma forma secundária, como acessórios pouco usuais”, explicou.
No FC Metalist, que luta para conquistar uma vaga para as competições européias do ano que vem, o corpo técnico de campo é constituído de um treinador principal e mais cinco adjuntos – Huff é um deles.
“As minhas atribuições são no aquecimento do treino, no desenvolvimento de alguns trabalhos para melhora de performance desportiva (força ,coordenação, rapidez, etc.), sempre combinado com bola, e no aquecimento de jogo, preparando o grupo para o evento”, relatou.
O brasileiro, além da companhia de outros compatriotas, como o lateral-esquerdo Fininho, o meia Cleiton Xavier e o atacante Taison, convive com atletas das mais diversas nacionalidades. Idioma flexível, diferenças metodológicas e climáticas bem absorvidas e gestão humana eficiente foram os fatores primordiais para que Huff conquistasse a confiança de todos no clube e se firmasse como um vanguardista brasileiro na Ucrânia, em se tratando do ambiente técnico-científico do futebol
Nesta entrevista à Universidade do Futebol, ele falou mais ainda sobre o trabalho individual com atletas que retornam de lesão, a sua relação “distante” com o head coach e por que são encontradas dificuldades para se ensinar a técnica por meio da ação tática.
Universidade do Futebol – Michel, em primeiro lugar, fale um pouco sobre sua formação acadêmica, bem como seu ingresso e a trajetória no futebol profissional.
Michel Huff – Sou formado pelo IPA-MEC/RS, com Licenciatura em Educação Física (1998), com especialização em “Técnico desportista em futebol e futsal”, pela PUC-RS (2003).
Iniciei minhas experiências no futebol profissional em 2000, no já extinto Canoas Futebol Clube, como assistente do preparador físico Nestor, meu amigo.
Já trabalhava em categorias de base desde 1995, quando ingressei na faculdade, e minha função no Canoas era preparador físico do juvenil e assistente físico do profissional.
Universidade do Futebol – Como surgiu a oportunidade de trabalhar na Ucrânia? Já era algo planejado, ou apareceu realmente como outra possibilidade qualquer?
Michel Huff – Já tive outras possibilidades de ir para o exterior, era um objetivo meu e estava me preparando para sair do Brasil, mas não era o momento oportuno.
Mantinha uma parceria com o técnico Beto Almeida desde 2005, mas como saímos do E.C. Juventude precocemente, eu fiquei sujeito a convites. Recebi um para trabalhar no F.C. Metalist por intermédio do meu amigo e ex-jogador de futebol Jader Brazeiro, que foi meu atleta em 2004 no São José de Cachoeira do Sul/RS, time que na época estava na Série A do Gauchão.
Ele atua aqui no Metalist como olheiro e tradutor, pois já jogou no clube. Foi solicitado um preparador físico que fosse atualizado e ele, conhecendo meu trabalho, prontamente me convidou e eu aceitei.
Universidade do Futebol – A sua adaptação ao idioma local aconteceu com facilidade?
Michel Huff – Na Ucrânia se fala o russo. Estava tranquilo em relação ao idioma, pois o meu amigo Jader é o tradutor, mas ele não pôde me auxiliar na minha chegada – estava no Peru observando jogadores no Sul-Americano sub-17 de seleções.
Então, tive que me adaptar sozinho e com a ajuda do Edmar, jogador brasileiro que está aqui há sete anos e fala russo fluentemente, e da amizade dos outros brasileiros, também (Fininho, Cleiton Xavier e Taison).
Mas tive que me esforçar, estudar um pouco a língua, pegar palavras-chaves do treinamento, escrever e ler ao mesmo tempo, escutar traduções, participar de palestras e tentar descobrir as palavras.
Dessa forma, hoje já consigo falar um pouco das expressões necessárias nas minhas participações no momento em que estou no campo.
ACOMPANHE NO BLOG NA PRÓXIMA SEMANA A SEGUNDA PARTE DA ENTREVISTA...
Kharkiv é considerada por muitos habitantes locais como a cidade mais desportiva da Ucrânia. Ela já produziu vários grandes atletas, como Aleksey Barkalov (pólo aquático), Rustam Sharipov (ginástica artística), Lyudmila Dzigalova (atletismo), Yuri Poyarkov (voleibol), além do “Peixe de Ouro” Yana Klochkova, nadadora que ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney e de Atenas. E conta também com um representante no futebol.
O FC Metalist é o clube mais popular da segunda maior cidade ucraniana. Vencedor da Taça da URSS, em 1988, a agremiação realizou campanhas bem sucedidas em competições posteriores, como ter chegado às oitavas de final da Copa da Uefa de 2009, naquela que foi a sua melhor campanha em competições européias. À ocasião, foi eliminado pelo tradicional Dínamo de Kiev.
Tal campanha certamente esteve condicionada ao processo de desenvolvimento interno. Após uma crise financeira, o Metalist foi adquirido pelo UkrSibbank e recebeu o patrocínio da DCH (empresa de Oleksandr Iaroslavskyi). Os investimentos constantes em estrutura e profissionais qualificados representaram êxito técnico. Inserido nessa realidade desde a temporada passada está Michel Huff.
“Aqui no FC Metalist, encontrei uma estrutura física de dar inveja a muitos clubes brasileiros. O centro de treinamento do clube é de alto nível, novo e foi feito há pouco tempo com tudo que se possa imaginar: campos de grama natural com iluminação – quatro ao todo –, um campo de grama sintética, quadra de areia, academia, ambiente de recuperação (piscina, sala de massagem, sauna seca, sauna a vapor, sauna fria), refeitório, tanto para o profissional, quanto para as divisões menores, hotel para a base e para o grupo principal, possuindo sala de internet, calefação geral, TV, sala de jogos, sala de palestra, departamentos médico e fisiológico, vestiários e segurança 24h por dia”, revelou o preparador físico brasileiro, radicado no país do Leste Europeu após convite de um amigo – o ex-jogador Jader Brazeiro.
Huff é professor de Educação Física, formado no IPA-IMEC/RS, com pós-graduação em Técnico Desportista em Futebol e Futsal, pela PUC/RS. Acumulou passagem pelas categorias de base de Grêmio e Internacional, além de departamentos principais de diversas representações do Rio Grande do Sul.
Na Ucrânia, ele percebeu de prontidão as diferenças relacionadas ao treinamento esportivo. Huff revela que não há atividades físicas propriamente ditas – todo o processo é criado a partir da estrutura contextual do sistema de jogo, mesmo que não haja um modelo de jogo da equipe determinado.
“Trabalham-se com poucos feedbacks de princípios do modelo de jogo, mas muita exigência de posicionamento tático. Em relação às avaliações físicas, valoriza-se muito pouco esse aspecto: não existe a preocupação com dados físicos, e os antropométricos são entendidos de uma forma secundária, como acessórios pouco usuais”, explicou.
No FC Metalist, que luta para conquistar uma vaga para as competições européias do ano que vem, o corpo técnico de campo é constituído de um treinador principal e mais cinco adjuntos – Huff é um deles.
“As minhas atribuições são no aquecimento do treino, no desenvolvimento de alguns trabalhos para melhora de performance desportiva (força ,coordenação, rapidez, etc.), sempre combinado com bola, e no aquecimento de jogo, preparando o grupo para o evento”, relatou.
O brasileiro, além da companhia de outros compatriotas, como o lateral-esquerdo Fininho, o meia Cleiton Xavier e o atacante Taison, convive com atletas das mais diversas nacionalidades. Idioma flexível, diferenças metodológicas e climáticas bem absorvidas e gestão humana eficiente foram os fatores primordiais para que Huff conquistasse a confiança de todos no clube e se firmasse como um vanguardista brasileiro na Ucrânia, em se tratando do ambiente técnico-científico do futebol
Nesta entrevista à Universidade do Futebol, ele falou mais ainda sobre o trabalho individual com atletas que retornam de lesão, a sua relação “distante” com o head coach e por que são encontradas dificuldades para se ensinar a técnica por meio da ação tática.
Universidade do Futebol – Michel, em primeiro lugar, fale um pouco sobre sua formação acadêmica, bem como seu ingresso e a trajetória no futebol profissional.
Michel Huff – Sou formado pelo IPA-MEC/RS, com Licenciatura em Educação Física (1998), com especialização em “Técnico desportista em futebol e futsal”, pela PUC-RS (2003).
Iniciei minhas experiências no futebol profissional em 2000, no já extinto Canoas Futebol Clube, como assistente do preparador físico Nestor, meu amigo.
Já trabalhava em categorias de base desde 1995, quando ingressei na faculdade, e minha função no Canoas era preparador físico do juvenil e assistente físico do profissional.
Universidade do Futebol – Como surgiu a oportunidade de trabalhar na Ucrânia? Já era algo planejado, ou apareceu realmente como outra possibilidade qualquer?
Michel Huff – Já tive outras possibilidades de ir para o exterior, era um objetivo meu e estava me preparando para sair do Brasil, mas não era o momento oportuno.
Mantinha uma parceria com o técnico Beto Almeida desde 2005, mas como saímos do E.C. Juventude precocemente, eu fiquei sujeito a convites. Recebi um para trabalhar no F.C. Metalist por intermédio do meu amigo e ex-jogador de futebol Jader Brazeiro, que foi meu atleta em 2004 no São José de Cachoeira do Sul/RS, time que na época estava na Série A do Gauchão.
Ele atua aqui no Metalist como olheiro e tradutor, pois já jogou no clube. Foi solicitado um preparador físico que fosse atualizado e ele, conhecendo meu trabalho, prontamente me convidou e eu aceitei.
Universidade do Futebol – A sua adaptação ao idioma local aconteceu com facilidade?
Michel Huff – Na Ucrânia se fala o russo. Estava tranquilo em relação ao idioma, pois o meu amigo Jader é o tradutor, mas ele não pôde me auxiliar na minha chegada – estava no Peru observando jogadores no Sul-Americano sub-17 de seleções.
Então, tive que me adaptar sozinho e com a ajuda do Edmar, jogador brasileiro que está aqui há sete anos e fala russo fluentemente, e da amizade dos outros brasileiros, também (Fininho, Cleiton Xavier e Taison).
Mas tive que me esforçar, estudar um pouco a língua, pegar palavras-chaves do treinamento, escrever e ler ao mesmo tempo, escutar traduções, participar de palestras e tentar descobrir as palavras.
Dessa forma, hoje já consigo falar um pouco das expressões necessárias nas minhas participações no momento em que estou no campo.
ACOMPANHE NO BLOG NA PRÓXIMA SEMANA A SEGUNDA PARTE DA ENTREVISTA...
Michel,
ResponderExcluirParabéns pela entrevista, e boa sorte nesse novo caminho profissional!
Grande abraço,
Prof. Hodo Figueiredo
www.preparacaofisicaemdebate.blogspot.com